Exploradores
MÍSTICA
A Mística desta Secção está inspirada, por um lado, nesse grande personagem, tantas vezes descrito por BP no "Escutismo para Rapazes" e em tantos outros escritos, que é o Explorador, e, por outro lado, nos Heróis do Povo de Deus.
Ao escolhermos estes personagens como pedras angulares da Mística desta Secção, tivemos em consideração as necessidades e as aspirações dos jovens de hoje, e os objectivos educativos do Escutismo e da Igreja.
O Explorador
Antes de tudo, este personagem é um homem bom que aprendeu, enquanto jovem, a conhecer e a amar a natureza, a ser auto-disciplinado e auto-suficiente, a adaptar-se ao meio ambiente em que vive, e a respeitar e a viver com as outras pessoas.
Parece-nos de uma riqueza imensurável a forma como este conceito de explorador nos é apresentado por BP, pois permite-nos, de uma forma simples e clara, verificar que o/a pré-adolescente e o/a adolescente não são adultos em miniatura, mas sim seres em construção, e que a adolescência é um momento importante na formação da personalidade do futuro Homem.
Tal como o antigo explorador, os nossos jovens aprendem, num mundo fortemente marcado por desigualdades de toda a ordem (sociais, económicas, religiosas, raciais, políticas, etc...), a viver com os outros, a respeitar, a amar e a proteger a natureza (riqueza da qual somos, diariamente, despojados pelas agressões constantes do "progresso" dos nossos dias), e a ver nela a obra do Criador.
O exemplo deste personagem, portador de valores profundamente actuais tais como a solidariedade, a criatividade e o respeito pela natureza, permite-nos promover uma educação orientada por valores universais, concretizados num modelo que se adapte às necessidades dos dias de hoje e que permita projectar, no futuro, a imagem do Homem.
Além disso, é o ambiente em que o/a Explorador/a vive permite transformar todo o acto educativo, proposto para a II Secção, num espaço de Aventura, onde o/a pré-adolescente e o/a adolescente são colocados perante desafios que, graças a um esforço pessoal e comunitário, vai superando, adquirindo cada vez mais novas competências e realizando novas "performances".
É, aliás, com base neste imaginário de aventura e sentido de cooperação, que se vai desenvolver toda a actividade desta Secção, proporcionando assim novas vivências e novas acções, a descoberta de novos mundos e o desenvolvimento de capacidades para a auto-suficiência.
Os Heróis do Povo de Deus
A par dos exploradores, os Heróis do Povo de Deus ajudam a enriquecer a proposta educativa para os pré-adolescentes e adolescentes do CNE. As aventuras que as suas vidas encerram particularmente a do Patrono, S. Tiago (o Maior), são um elemento catalisador, para que as actividades sejam fortemente marcadas por uma dinâmica que vai permitir ao pré-adolescente a descoberta do Homem, criado à imagem e semelhança de Deus.
A introdução deste novo elemento na Mística da Secção, permite que a formação religiosa do pré-adolescente e do adolescente seja mais objectiva, isto é, que ela tenha um suporte subjacente, facilmente materializável em modelos portadores de valores universais como:
- A vivência em comunidade;
- A comunhão de bens;
- A unidade;
- A espiritualidade;
- O serviço;
- A humildade;
- A fraternidade;
- O desprendimento/a disponibilidade.
Assim, ao sentido profundamente humano e amante da natureza do Explorador, acrescentamos o elemento transcendental da Fé, proporcionando um melhor clima para o aparecimento e desenvolvimento da educação integral dos jovens.
É neste ambiente que mais facilmente brotará uma vivência escutista, permitindo consubstanciar a finalidade do nosso Escutismo Católico: proporcionar aos adolescentes meios de auto-formação que os levem a intervir na sociedade, à luz do Evangelho, vivendo a sua fé caminhando para ela.
Baden-Powell
De entre muitos exploradores e Heróis do Povo de Deus, escolhemos as figuras de Baden-Powell e dos primeiros cristãos, para ilustrarmos muito rapidamente estes conceitos que explanámos, não porque sejam as únicas, mas talvez por serem as personagens que, de certa forma, nos tocam profundamente e que muito facilmente encarnam o papel de dinamizador da educação, melhor, da auto-educação, dos nossos pré-adolescentes e adolescentes. Aliás, eles também Exploradores enquanto colocados perante um novo mundo totalmente diferente do da idade de criança que já não são. São ainda eles que, tal como os primeiros cristãos, enfrentam problemas da nova espiritualidade, do testemunho e da vivência da Fé e de grandes ideais, da coragem, da vivência em pequenas comunidades...
Não será difícil demonstrar que BP é o explorador por excelência e que a sua destreza bem materializada nas suas acções, na escola, na caça ao javali, na Índia ou ainda na sua fuga aos Matabeles na África do Sul, o seu conhecimento de Deus, da Bíblia, da natureza e dos Homens e a sua personalidade, são preciosos modelos para a educação dos adolescentes.
Por outro lado, quando lemos "Os Actos dos Apóstolos", designadamente no trecho sobre a comunhão dos bens, nota-se, com evidência, que o desapego de todos os bens não é visto pelos primeiros cristãos em função da pobreza, mas em função da partilha que é causa e consequência da unidade dos cristãos, isto é, para que não existisse nenhum necessitado e os bens fossem distribuídos por todos, segundo as suas necessidades.
Uma outra observação que podemos fazer, baseados em "Os Actos dos Apóstolos", é que a comunhão dos bens era feita de modo organizado. De facto, o produto era dado aos Apóstolos e, em seguida, era distribuído a cada um proporcionalmente às necessidades sentidas.
A comunhão dos bens, para os primeiros cristãos, procurava e levava à igualdade e demonstrava que somos todos irmãos, sublinhando o que está escrito no Evangelho: "Quanto a vós, não vos deixeis tratar por Rabi, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos".
Entre os primeiros cristãos, ainda era muito acentuado o sentido do serviço. Este recorda aquilo que Jesus disse: "... não vim para ser servido, mas para servir...", e S. Paulo: "Nada façais por partido ou por vã glória, mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos".
O serviço, portanto, implica o desenvolvimento duma virtude: a humildade.
Nas primeiras comunidades cristãs, a caridade, que se estendia indistintamente a todos, era chamada "filadelfia", isto é: amor fraterno. A palavra "filadelfia" testemunha que esta realidade era sentida profundamente pelos primeiros cristãos.
Este amor recíproco, apresentado por Jesus Cristo no "amai-vos uns aos outros como Eu vos amei" - o mandamento novo do Novo Testamento - , tem também todas as características humanas do amor fraterno, por exemplo, a força e o afecto. Aos Romanos, S. Paulo diz: "Amai-vos afectuosamente uns aos outros com amor fraterno", e S. Pedro: "Sobretudo mantende entre vós mútua e constante caridade" e ainda: "Amai-vos uns aos outros, ardentemente e com o coração puro".
É um amor que as Escrituras querem que seja muito intenso e, ao mesmo tempo, um amor puro.
Uma novidade para os cristãos de outrora era o amor recíproco que levava todos a um só pensamento, não somente, portanto, a um só coração, mas a um só pensamento. Os primeiros cristãos viviam assim e S. Paulo disse-lhes: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelo nome do Nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos o mesmo, e que, entre vós, não haja divisões; sede perfeitos no mesmo espírito e no mesmo parecer".
O amor recíproco entre os primeiros cristãos, que leva a um só pensamento, não é apenas um conselho, mas uma verdadeira exigência.
A unidade de pensamento era, assim, uma das principais características dos primeiros cristãos.
É necessário ter presente, a vida dos primeiros cristãos, como "Os Actos dos Apóstolos" apresentam: "A multidão dos que haviam abraçado a Fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum". Era uma vida e um sentir comuns.
A Mística dos Navegadores
As viagens dos descobrimentos, as grandes expedições marítimas, os corsários, a aprendizagem da vela e do remo, a exploração de novas terras, o aprender a trabalhar com os outros em equipa, o embarcar para descobrir um mundo novo e a si próprio, orientam esta secção.
Inspira-se em Gil Eanes, Gonçalves Zarco, Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pedro Alvares Cabral, Fernão de Magalhães, que, pela sua busca, irreverência e simbolismo, inspiram os Moços.
É o desejo de explorar, de conhecer o mundo, o meio marítimo, as tradições, as novas técnicas e, assim, testar as suas capacidades.
Os Moços sabem viver com, e a natureza, respeitando-a, procurando conhecê-la, compreender os seus elementos e aproveitá-los da melhor maneira. Sabem cozinhar, montar a sua tenda e instalar um campo; conhecem as árvores, as conchas, os peixes, pescam sem destruir e conhecem as formas de poluição que ameaçam a vida nos oceanos e marés.
Os Moços gostam de usar as mãos aprendendo a serem hábeis, a colaborar na conservação das embarcações, da palamenta e da aparelhagem das embarcações, compartilhando os seus conhecimentos e conhecendo a arte de marinheiro. Conhecem o seu corpo, exercitando-o, através de uma alimentação equilibrada, das regras de higiene e da prática de desportos com vela, do remo e da vela.
Os Moços estão atentos a Cristo e à Sua Palavra, descobrem Deus todos os dias, na sua obra magnífica que é a natureza.
SIMBOLOGIA
São duas as áreas de identificação, que se concretizam em realidades que melhor simbolizam essa aproximação: a cor verde da Secção e as Insígnias.
1. A cor verde da Secção
É visível no lenço, nas jarreteiras e ainda noutras peças do Uniforme que é o espelho da alma de quem está "Sempre Alerta". Foi a cor escolhida para "marcar" os Exploradores, e que pode significar:
A esperança: (... sinal e consequência do teu compromisso...) é uma das três virtudes "teologais" que leva os cristãos a aderir a Deus, como suma bondade, isto é, como princípio e fim supremo do homem e felicidade perfeita, confiantes na Sua Promessa e no Seu auxílio. A esperança impele-nos a lutar nesta vida, por cima de qualquer dificuldade, para chegar a Deus.
- É um desafio permanente de esperança.
A natureza: espaço ao ar livre, obra maravilhosa de Deus, para que os homens e animais ali vivam, se alimentem, desfrutem da sua beleza e silêncio. Escolhido pelo Fundador como lugar ideal para a prática do Escutismo. O verde das árvores, das plantas, da relva são o reflexo da sua beleza que nos encanta.
- É um convite permanente a estar na natureza.
A bandeira: o Fundador hasteou-a na Ilha de Brownsea, em 1907 (nascimento do Escutismo). Era toda verde, tendo no centro uma flor de lis amarela. Podemos encontrar essa cor verde na actual Bandeira Nacional, assim como na da Associação. De igual modo, a cor verde foi a escolhida para a bandeira da Ala dos Namorados, inspirada pelo Condestável D. Nuno Alvares Pereira, na Batalha de Aljubarrota.
- É o respeito permanente que estes símbolos merecem.
A esmeralda: é um mineral transparente, cuja cor é dada pelo crómio, o que a torna uma pedra preciosa de grande valor. É o valor precioso que se deseja para construir um mundo melhor, mais justo e mais humano. É um valor permanente que aponta a riqueza do espírito da Patrulha, que marca o rumo aos Exploradores.
2. As Insígnias dos Exploradores
Cada insígnia deve criar, em quem a usa, uma nova obrigação e evitar que ela seja um simples ornamente no uniforme. Representam as fases de crescimento em todas as suas dimensões:
Nó Direito: é o nó que aplicamos no lenço e que nos recorda a "Boa Acção". Marca o esforço e o sacrifício, o amor ao próximo, razão importante da nossa existência como Escuteiros; é também sinal da autonomia. O nó significa ainda a união que junta e aperta um pequeno grupo de amigos e possibilita depois lançarem-se em audazes aventuras. Lembra-nos também as palavras de Jesus "Quando dois ou três se reunirem em meu nome, Eu estarei no meio deles" (Mt. 18,20). Estar em comum é melhor que estar só.
O Sinal de Pista: é actuar no jogo e no trabalho. É estar apto a partir para a Aventura em todas as direcções. É o caminho a seguir, pista apaixonante daqueles que não se deixam ficar a meio do caminho, nem se deixam prender pelo que encontram nele. É procurar, descobrir, cumprir, realizar, oferecer... É o tempo de assinalar a responsabilidade entre todos os Exploradores.
A Terra, Mar e Ar: representados pela árvore, pelas ondas e pelo Sol. Símbolos dos estados sólido e liquido e do espaço eterno onde o Sol nos ilumina e aquece. Que melhores sinais se podiam escolher para um jovem que ama a obra do Criador, que luta pela sua sobrevivência e procura deixar o mundo melhor do que o recebeu! É o tempo propício para a animação de um ideal, que se deseja sempre o máximo, porque é sempre possível ir mais além.
Simbologia da Água
A água, em si, contém sempre este binómio de significados: causa de morte e fonte de vida. É binómio, porque os dois significados acabam por se verificar no mesmo momento. Exemplo disto mesmo é o beber água para matar a sede; ao verificar-se a "morte" da sede, sente-se uma "nova vida". Esta só acontece quando se dá aquela. Na tendência que tem de correr para baixo, a água conduz ao abismo (cataratas e enxurradas) e é sinal de morte, mas também se estende na horizontal (acalmia) e até corre para cima, em forma de seiva por exemplo, e, então, é sinal e causa de vida.
Ao colocar água no açúcar ou sal, ela dissolve-os (destruição) e é causa de morte mas fica doce ou salgada (vida nova); mas ao olhar para um fio de água ou um rio, ela é símbolo da coesão, da união, de aliança, da incorporação, da coagulação e é sinal da vida que corre (água viva).
Na terra, a água é mãe e fonte de todas as coisas, está na origem da criação; ao contrário, a terra sem água, o deserto, é sinal de morte. Ela é fonte de vida e causa de morte; é criadora e destruidora, simultaneamente.
A água que separa os continentes também os une, porque é via de comunicação.
A água até é sinal da medida do equilíbrio. É, por isso, usada no nível (bolha de água) e em muitas bússulas. Misturada, por exemplo, com o vinho, para contrariar os efeitos do álcool forte que causa distúrbios, ela ajuda a manter o equilíbrio.
Porque não tem forma determinada, a água é imagem do caos, estado anterior à criação do mundo; com a ausência de vida e de harmonia, ela é desordem.
A água da chuva é benéfica, é fertilizante, dá vida; a água do mar, quando agitado, é maléfica, causa morte, engole tudo. Temos, assim, mais um significado que é diferente, conforme as águas vêm de cima (vida) ou de baixo (morte); são as águas puras (vitais) e as águas salgadas (mortíferas). Se a água dá vida, quando diluviana é destruidora das vinhas, das fruteiras em flor, das habitações e até de povoações. É o seu poder benéfico e maléfico.
A água poluída ou estagnada infunde horror, é imundície, é mau cheiro, é morte, afasta e é rejeitada. A água límpida atrai, cativa, faz-se desejar, mata a sede e combate o fogo, dando ou salvando a vida. A água da chuva, das fontes e ribeiros é o refrigério dos que têm sede e elimina a impureza.
Sem água não há vida, mas sim condenação à morte. Os oásis do deserto, as fontes e os poços são lugar de encontros essenciais; neles há vida; perto deles nasce o amor e começam casamentos. A água é centro de paz e de luz, é lugar aprazível. Os rios são agentes de fertilização; as chuvas e o orvalho trazem a fecundidade e manifestam a bondade divina, mesmo em forma de neve. A própria hospitalidade exige que se dê água fresca ao visitante e que os seus pés sejam lavados para assegurar a paz do seu repouso.
Assim, podemos falar, conforme o significado, de água doce ou salgada, corrente ou estagnada, clara ou suja, viva ou lacustre, espumante ou calma e silenciosa, inodora ou mal cheirosa, insípida ou gostosa, pesada ou leve e agradável...
É também meio de purificação. Os muçulmanos, por exemplo, têm os ritos de purificação com água corrente, antes de entrarem nas mesquitas; os cristãos usam-na também nos ritos de aspersão e ablução. Toda a gente a usa para se lavar, tomar banho (morte à impureza e sujidade e vida de higiene e limpeza).
Sendo sinal de purificação física, ela é também figura da purificação moral no baptismo, na aspersão com água benta, no "lavabo" da missa.
A água regenera porque também dá novas forças. Imaginem quando muito fatigados e sentados à borda da água corrente e cantante ou na margem dum rio a pescar ... Repousarão e recuperarão forças, paz e nova vida.
A água é também símbolo do espírito. A alma procura a Deus como o veado procura as águas vivas. A água regenera (gera de novo) mesmo a vida.
Quando alguém cai à água (mergulho ou imersão), morre ou corre o risco de morrer; quando sai (emersão) dela, salva-se. Ela prende e mata, mas também liberta; separa e isola (povoações por um rio), mas também une e comunica (pelas pontes e barcos). Ela suja, mas também lava e purifica. Ela divide, mas também congrega e incorpora ("copo d'água").